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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Como os evangélicos estão fazendo uso do poder

Há muito tempo se entende que a política e a religião são de âmbitos diferentes e que pode haver harmonia se estes âmbitos não interferirem um no outro. Em Estados laicos, como no caso do Brasil, o governo tem uma posição neutra no campo religioso. Porém, as igrejas evangélicas vêm crescendo, o mesmo acontecendo com o número de pastores no poder legislativo do Brasil. Com isso, aumentam os ânimos conservadores, que atrapalham a adoção de leis sobre questões que a conduta religiosa considera erradas.

Segundo os dados do Censo 2000, 15,4% da população brasileira se declarava de evangélicos, já no Censo 2010 esse número aumentou para 22,2%. Com esse crescimento de fiéis, muitos pastores acabam assumindo cargos políticos utilizando sua popularidade para chegar ao poder, muitas vezes para tirar proveito próprio ou para uma pequena parcela de seu eleitorado.
Desde o dia 07 de março o pastor Marco Feliciano, deputado federal do PSC (Partido Social Cristão) de São Paulo, tornou-se presidente da CDHM (Comissão de Direitos Humanos e Minorias), envolto em muitos protestos e denúncias de ser homofóbico e racista. Por exemplo: em sua conta no Twitter ele escreveu: “Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé.” Com isso aumentou ainda mais a insatisfação da sociedade e de muitos políticos que também estavam incomodados com seu posicionamento frente às questões da sexualidade. Uma Comissão de Direitos Humanos e Minorias deve defender o ser humano não importando a crença, etnia ou orientação sexual, porém não é isso que tem acontecido desde que Marco Feliciano começou a presidir a CDHM. Aconteceram diversos protestos contra a sua permanência no cargo impedindo que pudesse continuar com a sessão.
Durante um culto na cidade de Passos em Minas Gerais, Feliciano disse a este respeito: "Essa manifestação toda se dá porque, pela primeira vez na história desse Brasil, um pastor cheio de espírito santo conquistou o espaço que até ontem era dominado por Satanás."
No dia 03 de abril, a bancada do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) na Câmara dos Deputados protocolou um pedido de investigação a Feliciano por quebra de decoro parlamentar. O documento diz que o presidente da CDHM estaria usando o mandato para proveito próprio e usando recursos públicos de forma irregular. Caberá agora ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, do PMDB ( Partido do Movimento Democrático Brasileiro) do Rio Grande do Norte decidir se abre investigação pelo Conselho de Ética ou pela Corregedoria da Câmara.
Casos como esse se tornam cada vez mais frequentes no Brasil, em que pastores utilizam sua pregação bíblica para divulgar seu ponto de vista a respeito do que acontece. Durante cultos religiosos, alguns pastores utilizam sua retórica para induzir seus fiéis a ideias e ações que muitas vezes são de acordo com suas convicções, e não há abertura para um debate para chegar em um consenso comum. Ações como essa criam pessoas com ideologias preconceituosas aumentando embates com pessoas de outras religiões como as afrobrasileiras por exemplo e de grupos GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros). A maior parte dos protestos que ainda estão acontecendo por onde o pastor Marco Feliciano passa ou em outros lugares estão sendo promovidos por boa parte de entidades que são contrárias a qualquer tipo de intolerância pois é inaceitável continuar com essa situação.
O Brasil é um país de muitas religiões e muitas vezes pode haver divergências por causa disso, porém a intolerância é algo que não deve ser incentivado aos seguidores, afinal o que é certo para um cristão pode não o ser para um muçulmano. O país tem uma grande diversidade nas religiões, políticas, etnias e ideologias, que podem coexistir sem que haja conflitos. Ninguém é senhor da verdade suprema e sempre haverá divergências, porém é preciso que os lados se entendam para chegar a um acordo comum a todos. Qualquer político, independentemente do poder que exerce, deve representar o povo e não somente o seu eleitorado, portanto a sua função é trabalhar por todos e não somente pelas suas ideologias, sejam elas quais forem. “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder, ” - essa frase de Abraham Lincoln foi dita há mais de um século mas continua atual.

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