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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Enfim, revelada a causa da morte de Tutankhamon

O jovem e lendário faraó Tutankhamon, que teria morrido misteriosamente há mais de 3 mil anos, faleceu, na verdade, de malária combinada com uma infecção óssea, segundo um estudo divulgado nesta terça-feira nos Estados Unidos. O diagnóstico pôde ser estabelecido sobretudo graças aos exames genéticos, que revelaram uma série de más-formações na família Tutankamón, como a doença de Kohler, que destrói células ósseas.



As análises de DNA também puseram em evidência a presença de três genes vinculados ao parasita Plasmodium falciparum, responsável pela malária em quantro múmias estudadas, entre elas a de Tutankhamon.

"Estes resultados permitem pensar que uma circulação sanguínea insuficiente dos tecidos ósseos, que debilitou e destruiu parte da ossatura, combinada com malária, foi a causa mais provável da morte de Tutankamón", ocorrida após uma fratura, explica Zahi Hawass, com trabalhos divulgados no jornal da Associação Médica americana (Jama) na edição de 16 de fevereiro.
AFC.
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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Novas revelações sobre Tutankhamon podem surgir em breve.

O Egito anunciou que, na próxima semana, vai fazer revelações importantes sobre a família e filiação de Tutankhamon, um dos grandes mistérios da antiguidade faraônica, com a ajuda de análises ao DNA.

O anúncio deverá ser feito no Museu de Arqueologia do Cairo, onde está exposto o tesouro descoberto em 1922 no túmulo do jovem faraó da XVIII dinastia, que morreu há mais de três mil anos.
O diretor do museu, Zahi Hawass, disse estar em condições de revelar “os segredos sobre a família e filiação de Tutankhamon, com base nos resultados das análises científicas à sua múmia”.
Hawass, que se opôs a que os testes ao DNA fossem realizados no estrangeiro, anunciou em Junho do ano passado que investigadores egípcios estavam a tentar solucionar o enigma da filiação do faraó.
A múmia do jovem príncipe proclamado rei com uma idade estimada de nove anos foi descoberta num sarcófago em ouro maciço pelo arqueólogo britânico Howard Carter, no Vale dos Reis, perto de Luxor.







O túmulo continha um tesouro excepcional, a máscara da múmia em ouro maciço que muito contribuiu para fazer de Tutankhamon um dos faraós mais conhecidos, mesmo que o seu reinado de uma dezena de anos tenha sido modesto.
A possibilidade de uma filiação com Nefertiti e a morte quando ainda era adolescente, fazem com que “a parte romântica desta história seja incontestada”, considera o egiptólogo francês Marc Gabolde, que se especializou na história do jovem rei.
Mas apesar das investigações intensas, a sua ascendência exata ainda não foi precisada com exatidão, bem como as circunstâncias certas da sua morte – doença, acidente ou assassinato – continuam a ser um enigma.
Agora é esperar e ver o que há de novo em tão polêmico tema.

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A descoberta da América pelos egipcios.









terça-feira, 12 de maio de 2009

Revelações sobre os saqueadores de tumbas do Egito


Segundo o Livro dos Mortos, após o funeral, o akh do morto dirigia-se ao horizonte ocidental, onde ficava a Sala do Julgamento presidida pelo deus Osíris (El-Mahdy, 1995: 154). Perante quarenta e dois deuses, o morto declarava sua inocência, enquanto em uma balança o seu coração (representação da consciência) era pesado contra a pena da deusa Maat (representação do equilíbrio), com o objetivo de verificar que o morto não houvesse mesmo cometido as quarenta e duas ações que contavam da “confissão negativa” (encantamento n° 125), como vemos abaixo:
“Ó tu, cujos passos são longos, que vens de Heliópolis, eu não menti.” e,
“Ó tu, que és abraçado pelo fogo, que vens de Khereha, eu não roubei.” (Faulkner, 1993: 31)
A razão destas ações serem negadas demonstra que as mesmas faziam parte do cotidiano egípcio. Os próprios símbolos formadores das palavras “mentira e “roubo” refletem igualmente seu significado. Na palavra mentira, grg, o determinativo é um pequeno pássaro que representa ações pequenas ou mundanas; e na palavra roubo, awAi, o determinativo é um homem batendo com um bastão, sem dúvida uma ação repressora ou condenatória, o que demonstra que extraía-se confissões de quem roubava através de bastonadas nas palmas das mãos e nas solas dos pés.
O morto, caso fosse considerado transgressor de alguma das quarenta e duas ações condenadas, fato que nunca aparece representado nas vinhetas dos papiros, teria seu akh devorado por uma criatura híbrida chamada Ammit, a “engolidora de almas”. Se fosse considerado puro, tornar-se-ia um justificado, mAa-xrw, e passaria a viver eternamente no reino do deus Osíris.
As Tumbas
Para os egípcios, a palavra pr, significava casa; esta mesma palavra era também utilizada para denominar a “tumba”, “Casa da Eternidade” (Faulkner, 1976: 89). Os tipos de construções funerárias variaram muito no decorrer da história egípcia. Construíram-se tumbas de adobe3, mastabas, pirâmides e hipogeus4, todos com o mesmo objetivo: preservar o morto e seu enxoval funerário. Deveriam, portanto, ser estruturas eternas, um local seguro, resistente ao tempo e protegido contra os animais (Budge, 1995: 315).
Os sepulcros estavam localizados em áreas estratégicas, longe das enchentes periódicas do Nilo e respeitando duas concepções simbólicas: o deserto ocidental onde tudo perece e o local onde o sol se põe, ou seja, a morte (Lurker, 1995: 14).
As construções eternas permaneceram, mas foram lesadas pela sua própria imponência: despertaram a atenção e, conseqüentemente, a cobiça entre os homens. A eternidade dos mortos estava ameaçada pela atividade de saqueadores movidos pela busca de tesouros.
Os arquitetos dos Antigo e Médio Reinos, conscientes dos saques, tentaram resolver o problema incluindo passagens secretas, fossos e câmaras falsas no interior das tumbas. Todas as modificações foram ineficientes, muitas das mastabas e pirâmides em Gizé, Sakara, Dashur, Hawara, Lisht e El-Lahun foram encontradas completamente vazias (El-Nawaway, 1980: viii). Até a XVII dinastia, muitos sepulcros reais eram ligados aos templos funerários, onde os sacerdotes faziam oferendas diárias ao Ka do rei morto. Este culto funerário, na maioria dos casos, não perdurava senão por algum tempo após a inumação real; quando abandonado, o complexo funerário ficava à mercê de saqueadores (Desroches-Noblecourt, 1984: 50).
No início da XVIII dinastia, os faraós, preocupados com os constantes roubos, decidiram esconder os hipogeus, separando-os dos templos funerários. Amenhotep I foi o pioneiro na construção de sua tumba subterrânea na margem ocidental de Tebas, em um vale deserto chamado Biban el-Moluk, conhecido atualmente como “Vale dos Reis”. Seu sucessor, Tothmés I, também adotou a construção de um hipogeu. Durante seu reinado, Ineni, um alto funcionário e arquiteto real, registrou a seguinte inscrição em sua própria tumba:
“(...) Eu supervisionei a escavação da tumba de Sua Majestade na rocha, sozinho, sem ninguém ver ou ouvir (...)” (Harris e Weeks, 1973: 102).
Esta inscrição é clara quanto à precaução no relativo à segurança da tumba. Mas até que ponto havia sigilo sobre a construção?
A Vila de Deir el-Medina e os Saques
Os trabalhadores e artesãos que construíam e decoravam as tumbas durante o Reino Novo habitavam em uma vila, localizada num pequeno vale na margem ocidental de Tebas, conhecida atualmente como Deir el-Medina. O nome provém do árabe “Monastério da Cidade”, devido à presença de um pequeno templo dedicado a deusa Hátor5, construído no período Ptolomaico e utilizado pelos coptas como monastério.
A administração desta vila, bem como a da necrópole, estavam sob as ordens de um prefeito, governante de Tebas ocidental “Cidade dos Mortos”, enquanto em Tebas oriental, onde a maioria da população habitava, havia outro prefeito, o governante da “Cidade dos Vivos”.
Os trabalhadores viviam isolados em aproximadamente setenta casas cercadas por uma muralha. A única entrada da vila localizava-se ao Norte, sob vigilância constante – controlava-se a entrada e saída de bens através de registro e inspeção. A construção das tumbas era efetuada por dois grupos, cada um com cerca de sessenta homens, escolhidos de acordo com o local onde moravam: à direita ou à esquerda da rua central da vila (Baines & Málek, 1996: 100). Permaneciam no vale durante uma semana egípcia (dez dias) e retornavam para descanso quando substituídos pelo outro grupo de trabalhadores. Dois “chefes dos trabalhadores” supervisionavam os grupos, sendo um para os trabalhadores que ficavam na vila e o outro para os que estavam no Vale dos Reis. Ao término de cada mês, os trabalhadores e artesãos recebiam seu salário pago em espécie (grãos, legumes, peixes, óleo, entre outros) (Taylor, 1995: 36).
De um depósito, chamado de sebakh, localizado próximo ao templo da deusa Hátor, provêm as informações mais interessantes sobre o cotidiano desta comunidade há mais de três mil anos. A missão francesa descobriu inúmeros registros em hierático, ou em hieróglifos cursivos, escritos sobre ostracas (lascas de calcário ou fragmentos de cerâmica). Muitas outras foram encontradas misturadas à massa de tijolos de adobe, nas paredes das casas (Desroches-Noblecourt, 1984: 46). Os dados provenientes de escavações arqueológicas, ostracas e papiros demonstram que inúmeros habitantes de Deir el-Medina estavam envolvidos com os saques de tumbas.
Segundo uma ostraca (Cairo n° 25521) e um papiro (Salt n° 124), Paneb, o chefe dos trabalhadores no reinado do faraó Siptah II (início da XX dinastia), estava envolvido em uma série de irregularidades. Utilizou sua posição para proveito próprio: ordenou que um trabalhador estucasse a câmara funerária de sua tumba, e de outro exigiu que pintasse seu ataúde. Utilizou-se, ainda, de bens do Estado para seus propósitos o mais grave, porém, é que provavelmente assassinou Neferhotep, o outro chefe dos trabalhadores, que o havia denunciado. Outro crime de Paneb só foi descoberto pelos arqueólogos que escavaram sua casa: um fragmento de madeira recoberto com folhas de ouro, pertencente ao faraó Ramsés III, foi encontrado em sua adega (Desroches-Noblecourt, 1984: 48). Paneb conseguiu ocultar seu envolvimento com o saque da tumba real, confirmando assim que o governo raramente agia, devido a ausências de denúncias.
Durante os reinados dos Raméssidas (c. 1200 – 1085 a. C.) os roubos tornaram-se mais do que evidentes. Em 1126 a. C., Paser, o prefeito da cidade dos vivos, em Tebas oriental, iniciou uma investigação, na qual apuraria quais eram as tumbas reais violadas. Na realidade, esta investigação deveria ter sido efetuada por Pawero, o prefeito da cidade dos mortos, já que a necrópole estava sob sua administração. Paser já suspeitava que Pawero estava envolvido com os saques, queria denunciá-lo e aos roubos. Havia uma rivalidade entre os dois prefeitos. Um documento, o papiro Amherst, encontrado nos anos 1850 em Tebas e conhecido desde 1874, atualmente na Pierpont Morgan Library, Nova Iorque, completa a história. Paser localizou os suspeitos (El-Nawaway, 1980: ix). Um deles, chamado Amonpanefer, (El-Mahdy, 1995: 26) narra assim os acontecimentos:
“ No 13° ano do faraó, meu senhor, quatro anos atrás, eu concordei com o carpinteiro Seteknakht [em roubar as tumbas da necrópole]. Nós procuramos e nós encontramos a tumba [do rei Sobekemsaf], e de sua esposa real Nebkhaas7. Ela estava protegida e selada com gesso, mas nós forçamos a entrada. Nós abrimos seus ataúdes e os tecidos, nos quais eles estavam envolvidos, e encontramos a nobre múmia do rei, trajada como um guerreiro. Havia muitos amuletos ugiat e ornamentos em seu pescoço, e uma máscara de ouro sobre ele. As confissões foram obtidas através de bastonadas. Os papiros, entretanto, não mencionam o fim desta história. Os envolvidos no saque das tumbas tebanas provavelmente foram condenados e mortos. As tentativas de fiscalização das tumbas continuaram. Horemkhenesi, chefe dos trabalhadores, deixou registrado em um grafite (n° 2138), a leste da entrada da tumba de Seti II, o seu trabalho: “Ano 20, segundo mês do verão, (...), a vinda do sacerdote-wab de Amon-Ra, rei dos deuses, o maior no grupo do local da verdade, Horemkenensi, para fazer a inspeção inicial no grande vale, com os agentes do grupo, os quais estavam sob seu comando: Heramonpena, (...), Kenamon e Sapaankh” (Taylor, 1995: 18). Com a morte de Ramsés XI, o Egito entrou em um novo período de conturbação social. O Vale dos Reis não era, agora, um local seguro, nem mesmo para os vivos. Temerosos, os últimos trabalhadores de Deir el-Medina mudaram-se para o Sul, refugiando-se no interior das muralhas do templo de Medinet Habu. Posteriormente a esta mudança, os trabalhadores foram dispersos, sendo alguns recrutados pelo exército (Taylor, 1995: 38). Preocupados com a segurança das múmias, os oficiais continuaram fiscalizando as tumbas conhecidas e começaram uma busca para encontrar as tumbas antigas. Iniciou-se um novo processo, em meados da XXI dinastia, uma espécie de confisco de bens que não haviam sido levados pelos saqueadores. Este episódio é às vezes descrito como “a saga das múmias errantes”. Os sacerdotes do templo de Karnak recolheram as múmias que ainda se encontraram nas tumbas. Muitas estavam danificadas e foram restauradas, reenfaixadas e depositadas em “novos” ataúdes, pertencentes a outros indivíduos cujas múmias provavelmente haviam sido destruídas (El-Nawaway, 1980: x). Inúmeras múmias passaram por várias tumbas, até serem depositadas em dois “esconderijos reais”.






Este fato ocorreu no início da XXIII dinastia, durante o reinado do faraó Sheshonq I (c. 945 a. C.). O primeiro esconderijo era a tumba da rainha Inhapi, onde quarenta múmias (sendo trinta e duas de personalidades régias e oito sacerdotais) foram inumadas (El-Mahdy, 1995: 36-37). No segundo esconderijo, a tumba do faraó Amenhotep II, foram depositadas dez múmias reais e outras seis não identificadas. Em períodos posteriores, outros sepultamentos coletivos devem ter sido organizados da mesma maneira. Destes, certamente, como já observamos, são provenientes as múmias e diversos artefatos da coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro. As últimas tentativas de conter os saques das tumbas foram eficazes. O “descanso” das múmias só foi novamente perturbado dois mil anos depois, quando antiquários e saqueadores as descobriram no século XIX. Conclusão A preparação para uma vida futura, segundo a religião egípcia, devia incluir nos túmulos objetos que o morto iria reutilizar. Tais objetos foram o principal alvo da atividade dos saqueadores. Na tentativa de contê-los, antes mesmo dos saques serem efetuados, sua prática já era condenada pela ideologia religiosa. A arquitetura funerária foi modificada, as tumbas imponentes foram substituídas pelos discretos hipogeus, construídos longe dos templos funerários. A própria vila de Deir el-Medina, construída isoladamente, representa uma tentativa efetiva de vigilância do Estado sobre a população de trabalhadores e artesãos encarregados da construção das tumbas. Mesmo assim os saques ocorriam e, em algumas ocasiões, contavam com o apoio de autoridades responsáveis pela manutenção das tumbas, como comprovado pelas descrições contidas nos papiros e nas ostracas provenientes da vila. Estas atitudes eram combatidas por outras pessoas de posição equivalente que denunciaram estas ocorrências. Como última medida, os sacerdotes procuraram reunir as múmias restantes e artefatos funerários, e os depositaram em tumbas coletivas. Este material corresponderia ao que foi encontrado no século passado por antiquários e saqueadores e veio a constituir as coleções de museus atuais, como o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Os fatores relativos aos saques contribuíram para estabelecer um contexto comum a estas coleções, que se incorporou à sua história e por isto se tornam imprescindíveis para seu estudo, já que ser tornaram mais uma regra do que exceção em se tratando de tumbas egípcias. Havia muitos amuletos ugiat e ornamentos em seu pescoço, e uma máscara de ouro sobre ele. A nobre múmia do rei estava completamente coberta com ouro e seus ataúdes eram decorados com ouro e prata dentro e fora, e incrustados com pedras preciosas de todo o tipo. Nós pegamos o ouro, que nós encontramos na nobre múmia deste deus, e seus amuletos ugiat, e os ornamentos, os quais estavam em seu pescoço e os das bandagens, nas quais ele jazia. Nós encontramos a rainha, similarmente adornada, e nós pegamos tudo o que encontramos sobre ela também, nós colocamos fogo nas faixas, nós roubamos seus atavios, os quais nós encontramos sobre eles, objetos de ouro prata e bronze e dividimos entre nós. Nós dividimos o ouro, o qual nós encontramos sobre estes dois deuses e sobre suas múmias, em oito partes... depois nós atravessamos [o rio] em direção a Tebas. Poucos dias depois, os superintendentes do distrito ouviram sobre nosso saque no ocidente e eles prenderam-me e mantiveram-me na sala do prefeito de Tebas (...)” (Harris e Weeks, 1973: 104). Após a comprovação do roubo da tumba de Sobekemsaf e de Nebkhaas, Paser solicitou ao tjati9 Khaemwese uma inspeção na necrópole, afim de identificar quais tumbas haviam sido violadas. O papiro Abbott, conservado no Museu Britânico em Londres, descreve esta inspeção e aponta que apenas uma tumba real foi encontrada saqueada: “A pirâmide do faraó Setkhemre-Shedtawy, filho de Ra, Sobekemsaf: os ladrões arrombaram por um túnel através da câmara inferior da pirâmide para o saguão central da tumba do superintendente do celeiro do rei, Menkheperre Nebamon. A câmara funerária do rei foi encontrada vazia de seu senhor, como estava a câmara funerária da rainha, Nebkhaas, sua consorte. Os ladrões deixaram cair suas mãos sobre eles: O tjati, os nobres e os mordomos investigaram isto, e a maneira pela qual os saqueadores colocaram suas mãos sobre o rei e sua consorte foi determinada (...)” (Harris e Weeks, 1973: 105). Este fato demonstra uma contradição entre as declarações de Paser e de Pawero. Isto se devia, provavelmente, ao envolvimento deste último com os saques. Ele próprio deve ter conduzido a investigação e as ações de inúmeros saqueadores certamente foram ocultadas. Ainda no mesmo papiro, os inspetores se referem a violações de tumbas privadas e descrevem o caráter destrutivo das ações dos saqueadores: “ Os túmulos e tumbas na qual os privilegiados dos primeiros tempos, as habitantes e as pessoas da terra do descanso, no Ocidente da cidade: eles foram encontrados pelos saqueadores, que os violaram todos, arrancando seus donos de seus ataúdes e suas faixas, jogando-os através do deserto, e pilhando seu enxoval funerário, com o qual eles estavam, junto com o ouro e a prata e os objetos que estavam entre suas faixas” (Harris e Weeks, 1973: 105). Tal relato seria suficiente para condenar Pawero por negligência. No entanto, ele ainda conseguiu assegurar seu posto e mantinha o mesmo discurso. Paser, por seu lado, continuou insistindo em provar que os roubos realmente existiam e obteve confissões de alguns saqueadores. Porém, perante o tjati, eles negavam seu envolvimento. Paser tomou uma última decisão – listou as tumbas saqueadas para comunicar ao faraó os roubos. Entretanto, um comentário com Nesuamon, o mordomo real, prejudicou seu plano. Nesuamon escreveu uma carta a Khaemwese, afirmando: “seria uma ofensa se um na minha posição ouvisse tal coisa e a ocultasse” (Harris e Weeks, 1973: 107). Kaemwase opunha-se às acusações de saques que, para ele, não tinham fundamento. Esta atitude teve como principal conseqüência a continuação da ação dos saqueadores. Paser só conseguiu conter os roubos depois de doze meses, quando uma nova tumba havia sido violada. Khaemwase, então, teve que admitir a existência dos saques e provavelmente foi deposto. Um novo tjati, Nebmare-Nakht, com empenho, conseguiu prender quarenta e cinco saqueadores. No ano 19 do reinado de Ramsés XI, aproximadamente 1095 a. C., um interrogatório foi efetuado no templo da deusa Mut10 (Desroches-Noblecourt, 1984: 49). Entre os envolvidos estavam o inspetor do templo de Amon, Payesokar, o queimador de incenso do templo de Amon, Shed-Khonsu, o trombeteiro do templo de Amon, Amonkhaw, o estrangeiro, Userhet-Nakht, e o queimador de incenso Nesamon (Harris e Weeks, 1973: 108-111). As confissões foram obtidas através de bastonadas. Os papiros, entretanto, não mencionam o fim desta história. Os envolvidos no saque das tumbas tebanas provavelmente foram condenados e mortos. As tentativas de fiscalização das tumbas continuaram. Horemkhenesi, chefe dos trabalhadores, deixou registrado em um grafite (n° 2138), a leste da entrada da tumba de Seti II, o seu trabalho: “Ano 20, segundo mês do verão, (...), a vinda do sacerdote-wab de Amon-Ra, rei dos deuses, o maior no grupo do local da verdade, Horemkenensi, para fazer a inspeção inicial no grande vale, com os agentes do grupo, os quais estavam sob seu comando: Heramonpena, (...), Kenamon e Sapaankh” (Taylor, 1995: 18). Com a morte de Ramsés XI, o Egito entrou em um novo período de conturbação social. O Vale dos Reis não era, agora, um local seguro, nem mesmo para os vivos. Temerosos, os últimos trabalhadores de Deir el-Medina mudaram-se para o Sul, refugiando-se no interior das muralhas do templo de Medinet Habu. Posteriormente a esta mudança, os trabalhadores foram dispersos, sendo alguns recrutados pelo exército (Taylor, 1995: 38). Preocupados com a segurança das múmias, os oficiais continuaram fiscalizando as tumbas conhecidas e começaram uma busca para encontrar as tumbas antigas. Iniciou-se um novo processo, em meados da XXI dinastia, uma espécie de confisco de bens que não haviam sido levados pelos saqueadores. Este episódio é às vezes descrito como “a saga das múmias errantes”. Os sacerdotes do templo de Karnak recolheram as múmias que ainda se encontraram nas tumbas. Muitas estavam danificadas e foram restauradas, reenfaixadas e depositadas em “novos” ataúdes, pertencentes a outros indivíduos cujas múmias provavelmente haviam sido destruídas (El-Nawaway, 1980: x). Inúmeras múmias passaram por várias tumbas, até serem depositadas em dois “esconderijos reais”. Este fato ocorreu no início da XXIII dinastia, durante o reinado do faraó Sheshonq I (c. 945 a. C.). O primeiro esconderijo era a tumba da rainha Inhapi, onde quarenta múmias (sendo trinta e duas de personalidades régias e oito sacerdotais) foram inumadas (El-Mahdy, 1995: 36-37). No segundo esconderijo, a tumba do faraó Amenhotep II, foram depositadas dez múmias reais e outras seis não identificadas. Em períodos posteriores, outros sepultamentos coletivos devem ter sido organizados da mesma maneira. Destes, certamente, como já observamos, são provenientes as múmias e diversos artefatos da coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro. As últimas tentativas de conter os saques das tumbas foram eficazes. O “descanso” das múmias só foi novamente perturbado dois mil anos depois, quando antiquários e saqueadores as descobriram no século XIX. Conclusão A preparação para uma vida futura, segundo a religião egípcia, devia incluir nos túmulos objetos que o morto iria reutilizar. Tais objetos foram o principal alvo da atividade dos saqueadores. Na tentativa de contê-los, antes mesmo dos saques serem efetuados, sua prática já era condenada pela ideologia religiosa. A arquitetura funerária foi modificada, as tumbas imponentes foram substituídas pelos discretos hipogeus, construídos longe dos templos funerários. A própria vila de Deir el-Medina, construída isoladamente, representa uma tentativa efetiva de vigilância do Estado sobre a população de trabalhadores e artesãos encarregados da construção das tumbas. Mesmo assim os saques ocorriam e, em algumas ocasiões, contavam com o apoio de autoridades responsáveis pela manutenção das tumbas, como comprovado pelas descrições contidas nos papiros e nas ostracas provenientes da vila. Estas atitudes eram combatidas por outras pessoas de posição equivalente que denunciaram estas ocorrências. Como última medida, os sacerdotes procuraram reunir as múmias restantes e artefatos funerários, e os depositaram em tumbas coletivas. Este material corresponderia ao que foi encontrado no século passado por antiquários e saqueadores e veio a constituir as coleções de museus atuais, como o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Os fatores relativos aos saques contribuíram para estabelecer um contexto comum a estas coleções, que se incorporou à sua história e por isto se tornam imprescindíveis para seu estudo, já que se tornaram mais uma regra do que exceção em se tratando de tumbas egípcias.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O túmulo perdido de Jesus

Intitulado The Lost Tomb of Jesus (ou "O Túmulo Perdido de Jesus", em tradução livre), o documentário foi produzido pelo diretor do filme Titanic, James Cameron, para o canal de TV Discovery Channel. As supostas revelações do documentário fazem referência a um túmulo encontrado em 1980 no subúrbio de Talpiot, em Jerusalém. Nele, os arqueólogos encontraram dez caixões – ou repositórios de ossos – e três crânios. Estudos estatísticos citados no documentário apontam para uma probabilidade de 600 para 1 a favor de que esta seja a tumba da família de Jesus. 'Fizemos nosso trabalho (...), chegou a hora do debate', comentou James Cameron. O documentário "O Sepulcro Esquecido de Jesus" mostra um túmulo em Talpiot, Jerusalém, onde foram encontradas caixas com inscrições de nomes que constam do Novo Testamento, como "Jesus, filho de José", "Maria Madalena", "Mateus", entre outros. Seis deles portavam inscrições que foram traduzidas como Jesus, filho de José; Judá, filho de Jesus; Mariamne (apontado como o verdadeiro nome de Maria Madalena); Maria; José; e Mateus. Mas, à época, o achado não gerou grande interesse, porque os nomes eram comuns há dois mil anos.



Quinze anos depois, a equipe submeteu os resíduos de ossos a testes de DNA, e verificou que não havia parentesco entre os ossos que seriam de Jesus e Maria Madalena, levando-os a concluir que ambos só poderiam estar na mesma tumba se fossem casados. A tumba de dois mil anos tinha dez ossuários. Seis destas caixas são datadas do século 1º d.C. A produção apresenta evidências sugeridas por especialistas em aramaico, análises de DNA, ciência forense e outros. Ao lado, ossuário com inscrição 'Jesus filho de José'. Um Laboratório da Universidade de Ontário, no Canadá, analisou o DNA de partículas colhidas dos ossuários de "Jesus, filho de José" e "Mariamene e Mara" (em grego, que sugere o nome "Maria Madalena"). Ambos não eram geneticamente relacionados e poderiam ser de pessoas casadas. QuestionamentoEmbora não questione o episódio bíblico da Ressurreição – já que não havia ossos nos caixões – o filme de US$ 2 milhões (quase R$ 4,5 milhões) põe em questão os pilares do Cristianismo da mesma forma que o livro O Código da Vinci, de Dan Brown.O documentário diz que a tumba de Talpiot continha, originalmente, dez ossuários, nove dos quais estão sob a guarda de uma instituição de Israel. Entre as maiores descobertas está o ossuário com a inscrição "Judas, filho de Jesus". Na trama, a Igreja tenta esconder a revelação de que Jesus e Maria Madalena tiveram um filho.Para evitar manifestações de católicos, o local onde James Cameron dará uma coletiva de imprensa, nesta segunda-feira, será mantido em segredo até o último momento.A tumba onde os ossos foram encontrados também permanece sob guarda armada.Mas o cientista que supervisionou as escavações em 1980, Amos Kloner, disse que os nomes eram coincidência, e qualificou o filme como "bobagem".


"É uma ótima história para um filme, mas é impossível. É bobagem", ele disse, segundo o jornal Jerusalem Post."Jesus e seus parentes eram uma família da Galiléia, sem laços com Jerusalém. A tumba de Talpiot pertencia a uma família de classe média do primeiro século."